Do editor
Madrugada de hoje, 9 de janeiro de 2014.
Tilinta a campainha do celular.
É transmitida por um amigo, a triste e chocante notícia: faleceu o amigo de adolescência, João Faustino Ferreira Neto, que estava internado na UTI do Hospital do Coração, em Natal, RN.
O diagnostico inicial foi leucemia e a UTI do ar já se aproximava do aeroporto de Natal para levá-lo à São Paulo, após articulação nesse sentido do senador José Agripino Maia.
Infelizmente, não deu tempo!
Veio-me a mente o nosso último encontro.
Foi no Instituto de Radiologia de Natal, no último dia 30 de dezembro.
Lá estava para um exame e encontrei João.
Ele se queixou de gripe e que o médico lhe pedira uma radiografia, supondo pneumonia.
Quando já estava na sala de exames, João abre a porta e me dá o último adeus, desejando feliz ano novo.
Nos anos sessenta conheci João.
Militávamos na ação católica, sob a liderança de D. Eugenio Sales, que criara o “Movimento de Natal”, em defesa da doutrina social da Igreja.
Depois, para financiar os estudos acadêmicos, passei a ensinar “Organização Social e Política do Brasil (OSPB)” em colégios de Natal.
João ensinava matemática, inclusive no Seminário São Pedro.
Tivemos alguns desencontros e discordancias na vida, sempre preservado o respeito mútuo.
Ingressamos juntos no quadro de magistério da Universidade Federal do RN.
No Congresso Nacional exercemos vários mandatos de deputado federal.
Quando fundou o PSDB no RN, ele foi pessoalmente à minha casa convidar-me para o novo desafio.
Agradeci, mas não aceitei o convite, por razões pessoais.
João foi herói na luta incansável para ser um vitorioso na vida.
Enfrentou adversidades, as quais numa espécie de antevisão de sua partida para a Eternidade, relatou em livro lançado no final de 2012.
“Eu perdoo” é o nome do seu emblemático livro, quando lembrou que o primeiro grande ato de perdoar viveu ainda aos nove anos de idade, com revelações sobre o assassinato do seu pai.
“Aos nove anos de idade eu tive que enfrentar a necessidade de construir dentro de mim o sentimento de perdão porque, caso contrário, não conseguiria viver a vida que vivi.”, escreveu João, em emocionante testemunho.
Já adulto, em novembro de 2011, voltou a conviver com o sofrimento e a injustiça.
Ao amanhecer, a porta do seu apartamento foi invadida por um absurdo aparato policial, de revolveres e metralhadoras, que revolveu os seus pertences íntimos e o levou preso, numa chamada “Operação Sinal Fechado”, que fez jus ao nome, por ter realmente “fechado” todos os acessos aos princípios do direito de defesa prévio e às salvaguardas da cidadania.
Posteriormente, obteve “habeas corpus” e respondia o processo em liberdade.
João começou a morrer com o sofrimento decorrente desse último episódio.
O Estado, como ente jurídico, terá um dia que responder pelos danos morais que o levaram a falecer prematuramente.
João, com grandeza humana, escreveu no seu livro “Eu perdoo”:
“Depois de muitas adversidades, em que me maltrataram, me açoitaram, me prostraram sobre a terra como se vitoriosos fossem, ponho-me novamente de pé, com a cabeça erguida, para dizer-lhes: eu perdoo”.
A altivez do depoimento recorda a expressão shakespeariana, segundo a qual “Os covardes morrem várias vezes antes da sua morte, mas o homem corajoso experimenta a morte apenas uma vez”.
João era um corajoso.
Como previu Quintana no poema, conduziu a Cruz no princípio de sua vida e a luz da Estrela iluminará o seu fim, na Eternidade.
Imagino a dor de Sonia, sua esposa, dos filhos Edson, Lissa, Fáfá, dos queridos netos que ele adorava e todos familiares.
Só resta lembrar o livro “O Cântico dos Cânticos” na Bíblia.: “o amor é mais forte do que a morte”.
Nós, seus amigos e admiradores, repetimos Drumomond e o acusamos de ter feito o não previsto nas leis da amizade e da natureza, “nem nos deixaste sequer o direito de indagar por que o fizestes e porque te foste”.
Que Deus o receba de abraços abertos, amigo João Faustino!